domingo, 27 de outubro de 2013

Que escola me prepara para o Enem?


Há tempos que o Enem - Exame Nacional do Ensino Médio - além de ser passaporte obrigatório para o ingresso nas Universidades brasileiras, vem sendo utilizado como exigência para a aquisição do certificado do Ensino Médio, para todos os estudantes do país.

Nos anos ou meses que antecedem à realização do Exame, vemos a mobilização, por parte de algumas escolas, no sentido de preparar seus alunos, intensificando os conteúdos, oferecendo aulas extras e testes com questões retiradas de exames anteriores. 
Para os jovens candidatos, a tensão aumenta; o lazer é substituído por horas de estudo; o foco volta-se para acontecimentos recentes do cenário mundial; afinal, uma boa média no Exame pode significar um passaporte para o tão desejado curso superior em uma Universidade pública.

Todos esses esforços, porém, não anulam o fato de que, o Exame, além de exaustivo - Sábado: Ciências Humanas e suas tecnologias; Ciências da Natureza e suas tecnologias (4 horas de prova); Domingo: Linguagens, códigos e suas tecnologias e Redação; Matemática e suas tecnologias (5 horas de prova)  - é amedrontador, desestimulante, e completamente fora da realidade educacional vivida pela maioria dos nossos estudantes.

Vamos ser claros: A Escola não prepara seus jovens para o Enem. Tempos atrás, quando este era apenas um exame de conteúdos, com questões objetivas e diretas, esta crítica poderia soar equivocada. Porém, hoje, quando, além do conhecimento sobre conteúdos escolares - que muitas vezes não chegam a fazer parte do currículo - as questões do Exame exigem, do candidato, a capacidade de refletir criticamente, associar e analisar dados e fatos, contextualizar historicamente eventos atuais e do passado, ler e entender texto e contexto, compreender e decifrar códigos de linguagem verbal e não verbal, além de calcular - mesmo sem saber se tratar de uma questão de física ou matemática - e redigir um texto dissertativo -  argumentativo sobre um tema que não faz parte de seu cotidiano; a crítica pode soar cruel, mas sem dúvida, é verídica.

A Escola parou no tempo.
Enquanto não só o Enem, mas a sociedade evoluiu - ao menos tecnologicamente - a Escola continua a "ensinar" conteúdos rígidos, teóricos, fora da realidade. Verdades absolutas, transmitidas ao aluno de forma inadequada, e esquecidas, basta um pequeno distanciamento do espaço escolar.

A Escola padroniza. 
Todos são iguais, possuem as mesmas necessidades, aprendem da mesma forma e devem ser avaliados igualmente.

A Escola não ensina a pensar. Antes, corta pela raiz a capacidade de ser questionador; não abre espaço para diferentes visões e para a construção coletiva, através das relações sociais, do aprendizado pela experiência e da reflexão crítica.

A Escola é uma instituição que não considera saberes múltiplos; que não estimula o pensamento e a busca pelo conhecimento; que ignora as necessidades humanas do mundo globalizado, onde se escolhe a informação que deseja armazenar ou transmitir em frações de segundo; onde se vive em relações familiares diversas e adversas; onde se tem a necessidade de ser um ser pensante, de saber se colocar, se impor, se adaptar, mas, também, influenciar.

A Escola não anda. E não é a Escola enquanto corpo docente. Em meio a tantas concepções enrijecidas pelo tempo, há, sim, mentes que, por pensarem diferente, aventuram-se a "remar contra a maré", na tentativa de, pelo menos em parte, amenizar as carências de um sistema falido e opressor. Cientes, no entanto, de que não irão mudar o mundo, mas conscientes da necessidade de não serem omissos, de não se renderem à força contrária à evolução das mentes, mesmo que ela seja mais forte que o desejo de mudar.


Talvez por isto, o tal Enem tenha sido intitulado como"Um ensaio para a vida"; Deve ser porque, a vida, antes desta outra vida, para qual o Exame abre as portas, não tem valor algum. Não faz parte do ensaio, não é um aquecimento.
Alguém colocou no script... Mas é apenas pra constar.






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